Ana
1 min readSep 2, 2023

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Nas entrelinhas da madrugada ouço um barulho. É o ventilador que mesmo do modelo mais silencioso e estando em um cômodo diferente emite uma onda sonora. Para além do barulho existe um desassossego contínuo porque antes de dormir insisto, como se fosse um instinto de sobrevivência, olhar o celular, as novidades, um fluxo de informações vazias, esquecidas minutos depois. É assim ao longo do dia inteiro. Uma urgência, uma necessidade de conexão com um objeto inanimado. Procuro um espaço, um cômodo da casa, um lugar na cidade para estar em silêncio e não encontro. Os referenciais da vida parecem apontar para direção desse tumulto e focados nele não temos tempo de experienciar de forma plena os sentimentos, os sentidos, os encontros com os outros e com nós mesmos. Nos anestesiamos, nos desestabilizamos porque os fluxos são irrompidos e interrompidos o tempo inteiro e esse elo de desconexão expõe nossa fragilidade de ser humano.

"Meu problema é que meu problema não pertence apenas a mim. Que a melancolia que se exprime no meu corpo vem do mundo." (Nastassja Martin)

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Ana

em um estado de perplexidade permanente com aquilo que chamam de amor