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Entre aquele espaço de tempo em que o Sol se põe e o anoitecer faz morada tentei acreditar no amor como outrora acreditava, tentei sonhar um sonho bonito, tentei transformar o sonho em realidade. Tentei imaginar minha vida como era antes, sem dor, sem coração partido, sem tudo que me inquieta e me deixa acordada a noite inteira encarando de frente a escuridão. Tentei imaginar um amor sereno, porque como disse a escritora portuguesa amor que serena não termina; um amor que não massacra os sentidos, que é o oposto da dor.
É tão difícil imaginar algo assim neste exato momento, puro e simplesmente amor. Com cada letra posicionada, cada som emitido, cada significado que transborda e se transforma no inimaginável.
A questão metafórica de ter o coração partido é que o pássaro com asas já não pode alçar vôo, já não consegue acompanhar seu bando, foi desestruturada no seu íntimo. É sem reparo ainda que o tempo tenha seus mistérios. Mas sempre estará lá. Quero acreditar nas metáforas novamente, na molécula de DNA, no humano. Quero ter esperança de que um dia essa tristeza, tão melodicamente familiar, ganhe outros rumos.
Os sentimentos têm se mostrado tão invasivos, como desconhecidos que entram na minha casa sem convite mas ainda familiares porque habitam todas as células que me impulsionam a continuar velejando mesmo sem rumo. Tudo acontece ao mesmo tempo como em uma ventania forte que carrega o que está ao redor, explosões de raiva, oceanos que vazam pelos olhos. Alegrias passageiras, tristezas localizadas e um coração que suporta tudo isso, um corpo que se sente exausto mas precisa continuar em movimento.
Costumo dar tanta importância a certas situações que não merecem meu movimento. Consciente o faço, por vezes involuntariamente porque o corpo além de ser físico é memória. E memória se agarra a outra e a outra.
A noite já tomando seu lugar no tempo me mostrou uma estrela cadente e eu desejei me sentir, mesmo que por pouco tempo, com coração reparado.
Talvez um dia eu perceba que tudo isso que estou sentindo seja pesadelo, porque se for, eu posso acordar.